Mergulhados a muitas profundezas, estávamos apaixonados pelo teatro e sua nuances. Eram tantas peças, tantos personagens, tantas delicias. No meu peito adolescente, aproveitava pra tirar uma casquinhas nos exercícios de conhecimento corporal, também de me aproveitar dos outros em seus conhecimentos mais maduros, e lembro-me que tinha um paixão pelos clássicos, como se eles sim, tirassem o pó de nossa existência moderna e quase sempre rasa. Um dia, alguém com mais capacidade senil, propôs que encerracemos um pouco mais cedo os tão sedutores exercícios teatrais livres, e nos prendêssemos por 30 ou 40 minutos na leitura de textos, um pouco para escolhermos um para verticaliza-lo, um pouco para aumentar nossos conhecimentos. Muitas modernidades foram derramadas entre cafés e carinhos pueris, até que um dia caiu em minha mão uma tradução de Édipo Rei de Sófocles. Extasiei-me. Foi ai que propus a alguns (não a todos, pq a palavra todos era sempre indigesta) que após nossos ensaios e estudos fiessemos algo mais profundo com aquele texto dos deuses gregos. Foi ai que surgiu um estudo comandado por mim, o Valtinho, e pela Kelcei, sobre Édipo Rei. Durante a semana, prostrávamos na Biblioteca Cassiano Ricardo, líamos artigos e estudos sobre a obra e nos sábados, deliciávamos com a imperialista posição de ensinar os demais. Eu me destacava para mim mesmo, me expressava com altivez e a Cia Sem Máscaras tomava um corpo. Foi ai que houve a tangencia máxima praquelas cabecinhas “Vamos mostrar que estamos estudando o Édipo Rei? Mas como? Montamos pequenas cenas e mostramos pra quem não está no estudo!” Foi ai que nasceu a arte de estudar de pé. A coragem de pesquisar vivendo. E de encenar conhecimentos adquiridos. E entre casquinhas tiradas e adolescência espremidas estávamos nós, a mercê de Édipo e Jocasta!
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