HISTÓRIA ,1996/1997 - A Comendadora e Seu Teatro

No fim do Curso de Renato Borghi, muitos atores se reuniram e montaram espetáculos, o Edson havia feito muita amizade com a autora Beatriz Carolina Gonçalves, e um de seus textos tinha me apaixonado, era Lili Schollen, "a história de uma mulher que fugia da guerra na europa, por estar apaixonada por um judeu, mas este homem se suicida poucos passos antes da fronteira. Ela vem para o Brasil e cria sua filha, o conflito da peça era a relação entre esta mulher, suas lembranças e esta filha." Com a liberação de Beatriz para montar seu texto, conheci Jolanda Gentilezza, uma atriz impar, ela era uma italiana, que morava no Brasil há muitos anos, de seus 60 e poucos anos, com uma carga dramatica enorme, e uma estrada de vida fantástica. Ela tinha muitas histórias vividas em plena guerra. Com dois ou três dedos de conversa, decidimos montar. Ela mesmo sabendo da minha pouquissima idade, topou ser dirigida por mim. Ela era casada com um ex-presidente da Pirelli no Brasil, e tinha uma vida confortável, se relacionava com o sonho de ser atriz (depois de uma certa idade) de uma forma muito profissional e séria. Ela deu inicio a uma profunda pesquisa sobre a guerra, seus motivos, seus sobreviventes e foi ai, com ela, que me abateu um gosto pela "descobeta", nunca havia pensado até então, que pesquisar, estudar podia ser um ato tão prazeiroso, descobrir o pq de cada meandro, dar a verdadeira curva dramatica baseado na importancia dos fatos, até psicologia estudamos. Jolanda tinha o seu proprio teatro, no subsolo de sua ampla casa no Morumbi, seu titulo de comendadora nos valeu para entrevistar rabinos importantes, como Henry Sobel e até ler arquivos confidenciais da entrada de fugitivos da guerra no Brasil, na Policia Federal. Eu sei, e tenho certeza, que tudo que escrevi depois, textos, contos, histórias etc terá sempre uma inspiração em Jolanda, ela me ensinou a mergulhar, e me falava sempre "O olhar mais bonito da superficie, é o que se vê das profundezas". Pode se dizer que hoje a Cia Sem Máscaras faz trabalhos com um´pé na história, e um olho na pesquisa, por causa dessa atriz: Jolanda Gentilezza.